Maresia

   Andei não conseguindo escrever. Eu olho para a tela do computador, ou para a folha do caderno, com a caneta na mão, e não consigo escrever nada. As palavras não saem. Meus olhos ameaçam chover, eu abro o guarda-chuva, mas não chove. Não chove nunca. Está tudo seco. Há dias. O tempo. O ar. O peito. As ruas. O amor.
   Estava novamente andando pelas ruas hoje. Pessoas passando apressadas dentre minhas lembranças, que deveriam ficar cada vez mais distantes, mas eu ainda as carrego nesse meu peito que arde. Está quente aqui. Sinto sede. Sinto calor. Sinto febre. Quero mergulhar nesse seu mar, que ainda confunde as minhas ondas, mas a maré está alta, e a água turva. Não se enxerga mais o chão.
   Vou até a beira. Levemente as ondas encharcam meus pés. Algumas gotas também respingam nas minhas canelas. Joelhos. Coxas. Mãos. E ombros, que suportam o mundo de Drummond. Logo passa o vento e tudo seca novamente. Sou deserto. E mar.
    Saio correndo em direção à areia. O mar avança. Corro ainda mais, me despeço da praia, avanço sobre o asfalto seco e quente, sem chinelos, passo dentre os quiosques, os carros, as ruas, os cachorros, a poeira, as pessoas que vão em direção ao mar, enquanto eu fujo dele. Subo correndo as escadas do edifício mais alto, abro as janelas e debruço-me sobre a madeira já umedecida. Fito o mar ali de longe. Aqui ele não me alcança.
    


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