Noite de cinema

    De verde-azul se coloria meu peito. O resto era cinza. Eu estava bem. Eu acho. A turbulência daquelas ondas calmas me faziam suspirar. O ar estava seco. O tempo quente. O peito frio. Meus olhos ameaçavam chover. Merda, esqueci meu guarda-chuva. 
    Parei na frente do Belas Artes. As pessoas iam passando por mim, apressadas. Eu não tinha pressa. Podia ficar horas ali olhando, deixar com que as horas atropelassem tudo o que eu deveria fazer naquela noite. 
    Lembranças. Que me consomem. Que me puxam feito a ressaca. A cerveja gostosa que eu nunca mais tomei. Os atrasos. Aquele cheirinho de pipoca no ar. Os filmes bons, e os ruins também. O cochilo. O menino misterioso que a gente não foi falar com. As conversas sobre a vida. O universo. O palo santo que eu ainda não acendi. O sorvete naquele dia congelante (realmente fica mais gostoso). O cobaísmo, as palhaçadas e os olhares alheios julgando a nossa loucura (que ela seja perdoada).

    O filme da minha vida, bem ali. O abraço. Seus olhos de mar, e os meus, de ressaca. Resolvo entrar. "Já vamos fechar, moça." As luzes se apagam, as portas se trancam. Todos foram embora. Está vazio, e as lembranças estão dormindo.

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