(Des)pedaços

Enquanto eu caminhava,
O vento acariciava meu rosto de leve,
Meus pés tocavam suavemente a areia,
E a imensidão do mar me transbordava.

Um sorriso leve pendia no meu rosto, 
Eu olhava para você e via-me mergulhava em certezas, 
E o nosso silêncio não me incomodava, 
Mesmo com as luzes da noite iluminando nossos passos incertos. 

Então eis que a avalanche voltou, 
E naquela noite eu não acendi mais as luzes. 

Vejo-me novamente caminhando sobre a areia,
Mas agora não há mais chão,
E você está distante.

Farpas entram nos meus pés e impedem-me de dançar,
O vento derruba-me,
Enquanto a imensidão do mar me engole, 
Tranborda-me,
Inunda-me,
Afoga-me,
E se vai. 

Se vai e eu fico aqui com esse vazio,
E eu sei que não deveria ser assim,
Mas eis o que sou:
Uma colecionadora de vazios.
Ossos que não se encaixam na dança,
Pedaços que não se consertam, 
Cacos que vão e vem com o passar do vento.

Talvez eu nem seja assim tão vazia,
Ou então sei disfarçar bem,
Mas queria fingir que já não sei mais o quão bem nossos avessos se encaixam,
Queria não depender de suas ondas confusas para transbordar-me em maré.

Agora a noite chega,
As luzes da cidade se acendem,
Mas eu estou no escuro.


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